Eu fotografo há pelo menos 20 anos, mas fotografar como profissão é bem diferente de fotografar por hobby. Primeiro porque fotografando por hobby minha preocupação era agradar a mim mesma, fotografar por profissão é atender os anseios e expectativas de quem está contratando e isso muda tudo, ao menos para mim.
De um lado tem a minha visão de fotografia e, querendo ou não, meu estilo está lá, presente na foto, desconfio que mesmo que eu montasse um set igual a de outro fotógrafo, usando mesma luz e mesma exposição, as fotografias sairiam levemente diferentes, porque um cérebro não funciona igual ao outro, e as visões sobre um assunto mudam.
Fotografar produtos, por exemplo, foi uma experiência que eu só adquiri depois que comecei a fotografar por profissão e eu devo confessar que minhas experiências foram na base da tentativa e erro.
Uma coisa legal de fotos Still é que você é o dono e controlador absoluto de tudo que vai acontecer: é você quem controla a luz, direciona o foco, constrói e desconstrói a composição, usa a criatividade...
Meu primeiro still eu me armei de informações, fiz cursos, li tutoriais, estudei o trabalho de outros fotógrafos e levei toda essa bagagem para o estúdio.
Me frustrei mil vezes.
Primeiro porque via uma fotografia e queria copiá-la, usar a mesma luz, o mesmo ângulo... por alguma razão estranha a foto não ficava como eu queria – não ornava, como diz minha mãe – e eu fazia umas fotos e mostrava para a cliente, perguntando se era mais ou menos aquilo que ela queria, e ela dizia que estava ótimo, que estava bom, que estava bonito... e eu reparei que as fotografias que eu “errava” eram as que ela mais elogiava. Comecei a prestar atenção nas fotografias erradas – aquelas que não ficavam iguais os modelos que eu estava copiando de outros fotógrafos – o “erro” nesse caso, era que a foto ficava com a minha cara e não com a cara do fotógrafo que eu estava me inspirando para fazer a foto.
Resolvi fazer uma experiência e fiz uma sessão inteira de fotografias como eu achava que deveria ser e mandei para a cliente – aqui cabe uma explicação: Antes de aceitar o trabalho, eu e essa cliente conversamos muito sobre como ela queria ver suas peças fotografadas, vimos exemplos em portfólios de joias, etc., então eu estava me guiando nessa conversa para fazer as fotos, que apesar dela estar dizendo que estavam boas, não me pareciam boas o suficiente. Quando decidi fazer uma coisa diferente, do jeito que eu queria que fosse, estava de certa forma, passando por cima de toda a orientação da cliente, mas resolvi mandar as fotos assim mesmo para ver o que ela achava.
Foi a primeira vez em uma semana que eu recebi feedback realmente favorável. Os olhos dela brilharam! E ela disse: “agora sim!”
Foi minha primeira grande lição do mundo das fotos profissionais: SEJA VOCÊ!
Ter referencias em grandes fotógrafos não é problema nenhum. Querer ser o outro fotógrafo é que causa problemas, simplesmente porque não somos o outro fotógrafo, ponto. Por mais que o outro sirva de inspiração e te guie de alguma forma nas suas imagens, as suas serão sempre suas, com seu toque, sua visão... E quem foi que disse que a sua visão não pode se tornar até melhor que a visão do fotógrafo que você se inspira? Que coisas maravilhosas não podem sair de dentro de você se você se der a chance de se mostrar ao mundo?
Lição aprendida, peguei meu segundo trabalho, também de uma artesã. Fiquei 3 dias somente conversando com suas peças, experimentando, tentando ver se elas não me diziam como queriam ser fotografadas (risos) e quando mostrei parte do trabalho para aprovação, logo de primeira a artesã abriu o maior sorriso do mundo, deixou o queixo cair e disse: NOSSA!
Ah! A satisfação de ouvir um NOSSA bem dito com olhos admirados não tem preço! Só quem já ouviu sabe do que eu estou falando.
As fotos dessa segunda ficaram bem diferentes das fotos da primeira artesã, até porque eram peças totalmente diferentes.
E parafraseando a querida Pitty: "Seja você, mesmo que seja estranho/ Seja você mesmo que seja bizarro... "